Quem sempre diz isso é um grande amigo meu, que continua sendo um genuíno amante da boemia paulistana. Som de Cristal, Óbvio, Barracão de Zinco, Galeria Metrópole, Paulistano da Glória… por todos esses áureos locais meu amigo andou. E ele continua interessado e frequentando novos espaços.
Nunca fui da noite. Mas a convivência com pessoas pra lá de especiais me fizeram olhar, com carinho e respeito, para a forma como a noite embala os sonhos, devaneios, risos e sofrimentos daqueles que sabem reverenciar as andanças noturnas. E se houver música, a noite fica ainda mais bem embalada.
Dizem que não é possível fazer amigos nem se apaixonar ao pôr-do-sol. Devo ser exceção, pois grande parte das amizades que tenho (e aí não coloco os conhecidos) e algumas paixões floresceram nessa situação. Enfim, faço coro ao meu amigo, mencionado anteriormente, para garantir que, de fato, a noite é bela.
Considero a música selecionada uma das mais singelas e lindas que conheço. O que mais me chama a atenção é que a canção só poderia ter, como um dos autores, um autêntico boêmio de alma cândida, o mestre Vanzolini. Para quem não conhece ou mesmo para relembrar, eis “Na boca da noite”. E, claro, um viva a boemia!
Na boca da noite
(Paulo Vanzolini / Toquinho)
Cheguei na boca da noite, parti de madrugada
Eu não disse que ficava nem você perguntou nada
Na hora que eu ia indo, dormia tão descansada,
Respiração tão macia, morena nem parecia
Que a fronha estava molhada Vi um rosto na janela, parei na beira da estrada
Cheguei na boca da noite, saí de madrugada
Gente da nossa estampa não pede juras nem faz,
Ama e passa, e não demonstra sua guerra, sua paz
Quando o galo me chamou, eu parti sem olhar pra trás
Porque, morena, eu sabia, se olhasse, não conseguia
Sair dali nunca mais
O vento vai pra onde quer, a água corre pro mar
Nuvem alta em mão de vento é o jeito da água voltar
Morena, se acaso um dia tempestade te apanhar
Não foge da ventania, da chuva que rodopia,
Sou eu mesmo a te abraçar
E aqui o vídeo, na bela voz da Márcia…