A música da semana – 27 a 31 agosto/2012

Momento de recolhimento. Curto, direto e sem maiores delongas, a música que selecionei para o término dessa semana é “Retiros Espirituais”, de Gilberto Gil. Ser e não ser, certezas e incertezas…

Retiros Espirituais

(Gilberto Gil)

Nos meus retiros espirituais
Descubro certas coisas tão normais
Como estar defronte de uma coisa e ficar
Horas a fio com ela
Bárbara, bela, tela de TV
Você há de achar gozado
Barbarela dita assim dessa maneira
Brincadeira sem nexo
Que gente maluca gosta de fazer

 

Eu diria mais, tudo não passa
Dos espirituais sinais iniciais desta canção
Retirar tudo o que eu disse
Reticenciar que eu juro
Censurar ninguém se atreve
É tão bom sonhar contigo, ó
Luar tão cândido

 

Nos meus retiros espirituais
Descubro certas coisas anormais
Como alguns instantes vacilantes e só
Só com você e comigo
Pouco faltando, devendo chegar
Um momento novo
Vento devastando como um sonho
Sobre a destruição de tudo
Que gente maluca gosta de sonhar

 

Eu diria, sonhar com você jaz
Nos espirituais sinais iniciais desta canção
Retirar tudo o que eu disse
Reticenciar que eu juro
Censurar ninguém se atreve
É tão bom sonhar contigo, ó
Luar tão cândido

 

Nos meus retiros espirituais
Descubro certas coisas tão banais
Como ter problemas ser o mesmo que não
Resolver tê-los é ter
Revolver ignorá-los é ter
Você há de achar gozado
Ter que resolver de ambos os lados
Da minha equação
Que gente maluca tem que resolver

 

Eu diria, o problema se reduz
Aos espirituais sinais iniciais desta canção
Retirar tudo o que eu disse
Reticenciar que eu juro
Censurar ninguém se atreve
É tão bom sonhar contigo, ó
Luar tão cândido

 

Para quem preferir, eis o vídeo:

Um beijo redentor (dessa vez, por mim mesmo)

Quando decidi ter um blog, achei que ele não poderia ser personalista. Que não deveria ficar falando de mim. Das minhas alegrias, das minhas descobertas, das minhas andanças, das minhas paixões, das minhas angústias e temores. Daí que decidi falar da história dos outros. Afinal, sempre gostei de ouvir o outro. Mas o que aconteceu desde então, e que só vim perceber recentemente, é que parei de olhar para mim mesmo. Deixei minha história de lado e passei a me contentar com as histórias alheias. Decidi que quero mudar isso. Porque só pode contar bem a história do outro quem sabe, a fundo, sua própria história e não tem vergonha, medo de assumi-la, por mais complicado e difícil que seja.

Tomei a decisão também de não ficar me escondendo mais atrás de personagens criados por mim. A história que segue foi publicada no blog em 11 de julho passado, quando eu estava muito contente pela perspectiva de um novo despertar amoroso. Só não tive a coragem, naquele momento, de assumir a história como minha. Usei um pseudônimo (Pedro) que não me levou a nada. Ou melhor, me trouxe à situação em que me encontro hoje. Sim, estou triste, face o afastamento que houve na (e da) minha vida. Enfim… Fiz ajustes no texto e decidi republicá-lo, com a devida correção e dedicá-lo, de fato, a uma mulher muito especial que, acredito, acabei assustando e talvez magoando. Tenha certeza: não era minha intenção. E por você ainda nutro as mais belas, melhores e doces intenções que sequer consegui demonstrar como devia. Com intensidade. Com paixão. E parceria.

Um beijo redentor (dessa vez, por mim mesmo)

Eu estava feliz. Se não totalmente feliz, ao menos havia feito as pazes com meus fantasmas. Explica-se: tímido por natureza, e com uma crença enorme nas possibilidades do amor, sempre tive uma dificuldade tremenda em procurar aquela mulher que me transformasse em um homem melhor para o mundo.

Gosto da boemia, da velha e boa boemia. De caminhar de bar em bar para ouvir as canções mais vagabundas que retratem o apego à vida. Por conta disso, acabei conhecendo um monte de gente na noite.

Acho que sou um sujeito boa praça. Proseador, quando menos espero, lá estou eu bebendo com um novo desconhecido, falando ironicamente das mazelas e sutilezas do cotidiano, das relações amorosas, das idas e vindas do destino… enfim, tudo é motivo para conversar e beber.

Quase me casei. E para alguns, esse era o motivo do meu recolhimento, do meu temor de buscar outro relacionamento: o quase. Sempre encontrava uma razão para não me arriscar à possibilidade de conhecer uma mulher. Até mesmo quando ocorria de me roubarem taciturnamente um beijo, encontrava uma forma de sabotar a ocasião.

Desde que terminei esse relacionamento, nunca mais a vi. Ela fizera por mim o que eu nunca tivera a coragem suficiente de realizar ou ser: assumir a responsabilidade pelos meus próprios atos. Investi-me de crenças, fantasias e até mesmo de euforia pelo dia a dia ao lado da pessoa amada. Viver, eis a adrenalina que eu encontrara naquela relação.

Por isso, acreditava que depois de ter terminado com ela, não seria mais o mesmo. Até que… Numa dessas andanças, conheci uma outra mulher. Que sorrateiramente também me “roubou” um beijo. Mas, dessa vez, algo de novo acontecera. Eu retribuí, com a mesma intensidade, aquele ato. E gostei, e muito, do sabor dos seus lábios.

Sim, eu voltara a enxergar a possibilidade de um caminho mais alegre. Para onde irá esse trajeto? Isso eu não sei. Mas quer saber: não estou nem um pouco preocupado. Finalmente compreendi que minha relação anterior deu certo, sim, enquanto durou e que esse encontro me deu a base para não desistir e estar preparado para algo melhor.

De volta à cena do beijo. Ao me despedir daquela mulher e vê-la caminhar rumo ao portão do prédio, tive a certeza de que a vida, sim, vale a pena e que nela não há espaço para assombrações. Apenas a certeza de que o destino deve ser seguido sem percalços. Sorri e passei a caminhar vagarosa e levemente pela calçada, rumo a um novo amanhecer.

 

A música da semana – segunda-feira, 27 agosto/2012

Sentir, apenas e tão somente sentir. Para sentir é preciso certo, ou melhor, muito desprendimento. Desprendimento dos temores, das dúvidas, de todas as certezas que julgamos ter. E uma compreensão das fragilidades. A única coisa que sei, nesse momento, é que quero começar uma nova fase, sendo menos racional com a vida, com as pessoas, com o outro e com a pessoa amada que, de fato, me importa e que, por um descuido imprudente e tolo da minha parte, me faz falta, muita falta… O ser racional, que não passa de uma falsa tentativa de autodefesa, me levou a criar personagens e histórias para não ter tempo de olhar para minha própria história. Infelizmente. Mas garanto: aprendi e, por isso mesmo, achei bom começar essa semana com uma canção que me faz refletir sobre esse momento. Porque apesar de tudo o que aconteceu de errado, ainda acredito. Em mim. E em você, minha querida, a quem subestimei e não dei a devida atenção. Não perdi a esperança de conquistá-la pelo que eu sou de fato e não soube demonstrar.

Preciso aprender a só ser

(Gilberto Gil)

Sabe, gente
É tanta coisa pra gente saber
O que cantar, como andar, onde ir
O que dizer, o que calar, a quem querer

Sabe, gente
É tanta coisa que eu fico sem jeito
Sou eu sozinho e esse nó no peito
Já desfeito em lágrimas que eu luto pra esconder

Sabe, gente
Eu sei que no fundo o problema é só da gente
É só do coração dizer não
Quando a mente
Tenta nos levar pra casa do sofrer

E quando escutar um samba-canção
Assim como
“Eu preciso aprender a ser só”
Reagir
E ouvir
O coração responder:
“Eu preciso aprender a só ser”

E eis o vídeo com a música…

A música da semana – 20 a 24 agosto/2012

Para uma semana que começou totalmente diferente – basta lembrar que este colecionador de histórias postou uma canção em plena segunda-feira (o que foi para lá de incomum) – decidi antecipar a música selecionada para me despedir da semana. “Sem você” traduz o que tem significado, para mim, o desenrolar desses dias. Representa como me sinto e o que quero dizer nesse momento a alguém que considero muito especial em minha vida. Em tempo, agora entendo que o erro, por vezes e devido aos mais diversos motivos (e não que isso sirva de desculpas), é não ser quem se é de fato…

Sem você

(Tom Jobim/Vinícius de Moraes)

Sem você
Sem amor
É tudo sofrimento
Pois você
É o amor
Que eu sempre procurei em vão
Você é o que resiste
Ao desespero
E à solidão
Nada existe
E o tempo é triste
Sem você
Meu amor
Meu amor
Nunca te ausentes de mim
Para que eu viva em paz
Para que eu não sofra mais
Tanta mágoa assim
No mundo sem você

No vídeo, a interpretação de Chico Buarque e o acompanhamento de mestre Tom Jobim:

A música do início da semana

Uma breve reflexão sobre a necessidade de caminhar por conta própria, sem medos, sem temores e sem ressentimentos. Por mais que a letra transmita uma sensação de autopunição, de dor, de desalento mesmo, a impressão que tenho é justamente o contrário. Pois acredito nessa cantilena como a perspectiva de um recolhimento que, por vezes, precisamos ter e fazer. Para que possamos, a partir daí, olhar para a vida e, principalmente, para as pessoas, para os amigos, para o outro, para o ser amado com o devido brilho, interesse e viço que sejam capazes de alimentar um relacionamento, ou melhor, uma parceria que nos faça fortes o suficiente para compartilharmos os bons e, por vezes, difíceis percalços que surgem ao longo dessa caminhada. Eis, portanto, a vontade de se manter firme, de não perder a esperança no outro por mais complicado e confuso que seja. Enfim, nada melhor como um dia após o outro. Até porque, para o bem ou para o mal, as coisas, passam. E, garanto, é bom que passem, e da melhor maneira possível. Para ressurgirmos, com a devida atenção, ternura e carinho, para o outro. “Noturno” é a música escolhida para iniciar essa semana. Até porque eu não perdi a esperança; pelo contrário, acredito e mantenho o interesse nela.

 

Noturno

 

O aço dos meus olhos
E o fel das minhas palavras
Acalmaram meu silêncio
Mas deixaram suas marcas
Se hoje sou deserto
É que eu não sabia
Que as flores com o tempo
Perdem a força
E a ventania vem mais forte

Hoje só acredito
No pulsar das minhas veias
E aquela luz que havia
Em cada ponto de partida
Há muito me deixou
Há muito me deixou

Ai, coração alado
Desfolharei meus olhos
Nesse escuro véu
Não acredito mais
No fogo ingênuo da paixão
São tantas ilusões
Perdidas na lembrança
Nessa estrada
Só quem pode me seguir sou eu
Sou eu, sou eu, sou eu

 

No vídeo, a certeza do porvir, na interpretação de Fagner:

A música da semana – 6 a 10 agosto/2012

A seleção dessa semana presta uma homenagem a dois artistas, dos quais este colecionador de histórias é um suspeito admirador: João Borba e Adriana Moreira. Para quem não os conhece, há grandes chances de encontrá-los em locais como o Bar do Alemão ou talvez o Ó do Borogodó, ambos na zona oeste de São Paulo. E para que essa homenagem ficasse completa, a canção escolhida, também uma das minhas predileções, só poderia ser “Amantes da noite”. O curioso é que já vi atribuírem a autoria dessa música a outras pessoas. Daí que verdade seja dita (ou restabelecida): trata-se de uma parceria do compositor e ritmista Dida, que pertenceu à ala de compositores do Bloco Carnavalesco Cacique de Ramos, com o cantor e também compositor Dedé da Portela, que integrou a ala dos compositores e foi puxador de samba da Portela. Lembrando a canção, como diz um grande amigo meu: “A noite é linda…” Se tiver dúvidas, basta conferir essa melodia.

Amantes da noite

(Dedé da Portela/Dida)

Quando a noite abre o seu manto
Sua pureza, seu encanto
É um mundo de beleza

Seu canto
Suaviza madrugadas
Pelas ruas e calçadas
Sonorizando a natureza

A musa
Se encontra com a poesia
A letra com a melodia
A inspiração com a pureza

Sua voz
Em forma de acalanto
Ameniza qualquer pranto
Nos dá um toque de certeza

Ai de nós
Amantes da boemia
Se a noite fosse como o dia
A vida perderia a beleza

 

Eis o vídeo na bela interpretação de João Borba e Adriana Moreira…

A música da semana – 30 julho a 3 agosto/2012

Baque total. Foi isso que senti quando escutei pela primeira vez a canção selecionada dessa semana. A saber, este colecionador de histórias, não me lembro mais desde quando, sempre foi um admirador confesso de Tom Jobim e de Chico Buarque. E quando os dois se juntam, valei-me! Senhoritas e senhores, “Eu te amo” é a escolhida para fechar essa semana final de julho e inicial de agosto. Apaixonante, estonteante, desconcertante…

Eu te amo

(Tom Jobim / Chico Buarque)

 

Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir

 

Se, ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir

 

Se nós, nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir

 

Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu

 

Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu

 

Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios inda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair

 

Não, acho que estás te fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir

 

E para acalentar olhos, ouvidos e almas, eis o vídeo. Com a dupla e a participação de Telma Costa. Apaixonante, estonteante, desconcertante…