Quando decidi ter um blog, achei que ele não poderia ser personalista. Que não deveria ficar falando de mim. Das minhas alegrias, das minhas descobertas, das minhas andanças, das minhas paixões, das minhas angústias e temores. Daí que decidi falar da história dos outros. Afinal, sempre gostei de ouvir o outro. Mas o que aconteceu desde então, e que só vim perceber recentemente, é que parei de olhar para mim mesmo. Deixei minha história de lado e passei a me contentar com as histórias alheias. Decidi que quero mudar isso. Porque só pode contar bem a história do outro quem sabe, a fundo, sua própria história e não tem vergonha, medo de assumi-la, por mais complicado e difícil que seja.
Tomei a decisão também de não ficar me escondendo mais atrás de personagens criados por mim. A história que segue foi publicada no blog em 11 de julho passado, quando eu estava muito contente pela perspectiva de um novo despertar amoroso. Só não tive a coragem, naquele momento, de assumir a história como minha. Usei um pseudônimo (Pedro) que não me levou a nada. Ou melhor, me trouxe à situação em que me encontro hoje. Sim, estou triste, face o afastamento que houve na (e da) minha vida. Enfim… Fiz ajustes no texto e decidi republicá-lo, com a devida correção e dedicá-lo, de fato, a uma mulher muito especial que, acredito, acabei assustando e talvez magoando. Tenha certeza: não era minha intenção. E por você ainda nutro as mais belas, melhores e doces intenções que sequer consegui demonstrar como devia. Com intensidade. Com paixão. E parceria.
Um beijo redentor (dessa vez, por mim mesmo)
Eu estava feliz. Se não totalmente feliz, ao menos havia feito as pazes com meus fantasmas. Explica-se: tímido por natureza, e com uma crença enorme nas possibilidades do amor, sempre tive uma dificuldade tremenda em procurar aquela mulher que me transformasse em um homem melhor para o mundo.
Gosto da boemia, da velha e boa boemia. De caminhar de bar em bar para ouvir as canções mais vagabundas que retratem o apego à vida. Por conta disso, acabei conhecendo um monte de gente na noite.
Acho que sou um sujeito boa praça. Proseador, quando menos espero, lá estou eu bebendo com um novo desconhecido, falando ironicamente das mazelas e sutilezas do cotidiano, das relações amorosas, das idas e vindas do destino… enfim, tudo é motivo para conversar e beber.
Quase me casei. E para alguns, esse era o motivo do meu recolhimento, do meu temor de buscar outro relacionamento: o quase. Sempre encontrava uma razão para não me arriscar à possibilidade de conhecer uma mulher. Até mesmo quando ocorria de me roubarem taciturnamente um beijo, encontrava uma forma de sabotar a ocasião.
Desde que terminei esse relacionamento, nunca mais a vi. Ela fizera por mim o que eu nunca tivera a coragem suficiente de realizar ou ser: assumir a responsabilidade pelos meus próprios atos. Investi-me de crenças, fantasias e até mesmo de euforia pelo dia a dia ao lado da pessoa amada. Viver, eis a adrenalina que eu encontrara naquela relação.
Por isso, acreditava que depois de ter terminado com ela, não seria mais o mesmo. Até que… Numa dessas andanças, conheci uma outra mulher. Que sorrateiramente também me “roubou” um beijo. Mas, dessa vez, algo de novo acontecera. Eu retribuí, com a mesma intensidade, aquele ato. E gostei, e muito, do sabor dos seus lábios.
Sim, eu voltara a enxergar a possibilidade de um caminho mais alegre. Para onde irá esse trajeto? Isso eu não sei. Mas quer saber: não estou nem um pouco preocupado. Finalmente compreendi que minha relação anterior deu certo, sim, enquanto durou e que esse encontro me deu a base para não desistir e estar preparado para algo melhor.
De volta à cena do beijo. Ao me despedir daquela mulher e vê-la caminhar rumo ao portão do prédio, tive a certeza de que a vida, sim, vale a pena e que nela não há espaço para assombrações. Apenas a certeza de que o destino deve ser seguido sem percalços. Sorri e passei a caminhar vagarosa e levemente pela calçada, rumo a um novo amanhecer.