A história é real. Há até quem duvide, mas é. E, por isso, merece ser contada. Vamos ao que importa. E o que importa, no caso, é que Alberto e Cibele estavam em seu primeiro encontro. Por insistência de Alberto. Pois se dependesse de Cibele, jamais estariam ali, naquele bar. Simpático, engraçado e com uma lábia daquelas. Era vendedor e foi justamente por saber seduzir bem as pessoas pela conversa que acabara vencendo a resistência dela para saírem.
Secretária, trabalhava em um consultório médico. E não é que aquele encontro, sem grandes pretensões, estava deixando a moça um tanto quanto surpresa? Cibele se encantara pelo ótimo senso de humor dele. Conversa vai, conversa vem, um sorriso daqui, uma risada dali… Decidiram passar a noite juntos. Alberto, como bom cavalheiro, pagou a conta no bar. Ansioso, levou-a para um hotel simples e bem arrumado que conhecia no Centro Velho. Mais ansioso ainda ficou quando pegou a chave do quarto.
De tão ansioso, queria levá-la no colo e ir pelas escadas. “Calma, amorzinho, são seis andares. Acho melhor usarmos o elevador, tá?”, disse Cibele. Mal entraram no dito cujo, ela já foi o apertando contra um dos cantos. E o beijando de tal forma que, ao chegarem ao andar, não teve dúvidas. Agarrou-a ferozmente, puxou-a pelos braços e quase arrombou a porta do quarto.
Jogou-a na cama. E foi um tal de arranca roupa daqui, joga ali – sapato, vestido, meia, gravata, calça… Enfim, fizeram amor mais de uma vez. Alberto estava extasiado. Cansado. Há tempos não se sentia tão bem assim. Com aquela bela visão feminina ao seu lado, caiu em um sono profundo. E sonhava com ela. Era uma noite perfeita.
Mas eis que, de repente, o despertador do celular dele toca. Seis horas da manhã! Xingou, e muito, aquele barulho. Porém, lembrou-se e entrou em pânico. Havia marcado visita a um cliente, daqueles bem difíceis de agradar, e que o mero fato de conseguir agendar um horário já era por si só uma conquista. Tanto que todos os colegas de Alberto ficaram com inveja. A venda era certa, dizia-lhe o supervisor. “Agora, basta apenas assinar o contrato”, comentava a chefia.
“E agora, meu Deus! O que eu faço?” Sabia que aquela venda, se concretizada, lhe renderia uma tremenda comissão. E foi isso que fez com que se vestisse o mais rápido possível, deixando a moça envolta nos lençóis da cama. Acabou deixando um aviso para ela com o rapaz da recepção: “Tive de ir. Mas levo comigo a maior das lembranças dessa noite incrível que passamos juntos.” Tinha certeza de que Cibele iria gostar do seu recado. Que o acharia um homem romântico e que, daí em diante, várias outras noites juntos se sucederiam.
Porém, no ponto de ônibus, começou a se remexer. Discretamente, mas se remexia. Com o passar do tempo, sentiu-se muito desconfortável. Estava muito incomodado com suas roupas. Parecia que estavam o sufocando – como se já não lhe bastasse a sonolência. Passou a suar frio. Não via a hora de descer do ônibus. Quando isso aconteceu, correu para o primeiro banheiro público que vira. E assim que soltou o cinto da calça e a abriu… O que era aquilo? Não se lembrava de estar usando uma cueca preta. Aliás, que cueca, nada. Inacreditável! Era uma calcinha, ou melhor, a calcinha de Cibele!
Na correria, para não perder o compromisso, vestiu-se de qualquer jeito – nem se olhou no espelho do quarto – e daí a confusão. Após a infeliz descoberta, entrou no primeiro supermercado que encontrou e comprou um pacote com cinco cuecas. Foi novamente ao banheiro, trocou a peça – “Ai, que alívio!” – e jogou a calcinha fora. Chegou uns 20 minutos atrasados ao encontro. E levou outros exatos 20 para fechar a melhor venda da sua vida.
Felicíssimo, ligou para o supervisor para dar a boa nova. “Excelente, Alberto. Tinha certeza de que você conseguiria. Agora, me desculpe se estou sendo intrometido, mas vê se toma cuidado com as mulheres com quem você sai, né?” Não entendera nada. Será que seu chefe conhecia Cibele? E quem lhe contara que passara a noite com ela?
“Meu caro, a mulher esteve aqui logo cedo. Tínhamos acabado de abrir o escritório. Ela estava brava, mas muito brava. Disse que você era um tremendo de um cafajeste. Fez um escândalo e gritou para todos no andar que você aproveitou-se dela e que ainda por cima teve a cara de pau de levar a calcinha dela como lembrança de seu ato machista de sedução.”
Aquelas palavras não caíram bem para Alberto. O fato é que o vendedor do ano, que já não era bem visto pelos outros rapazes da empresa, ficou muitíssimo mal visto pelas mulheres que trabalhavam naquele escritório. Todas, sem exceção, passaram a olhá-lo, e muitas vezes tratá-lo, como um perfeito canalha. Um sujeitinho impertinente e, pior, um roubador de calcinha. Tanto que as moças passaram a evitá-lo, com medo de que ele pudesse roubar algum objeto íntimo delas.
Nunca mais vira Cibele. Até tentara ligar para ela, mas sem chances. Nada de atender sua ligação. O mais inacreditável é que essa má fama só fazia crescer, inclusive por todos os andares daquele prédio comercial. E mesmo nos bares e restaurantes da redondeza. Não podia contar a verdade. Afinal, quem acreditaria que aquele “terrível ladrão de calcinhas” era, na verdade, apenas um rapaz atrapalhado e ansioso que vestira, sem querer, a calcinha da mulher com quem fizera amor?