O casal perfeito…

Todo sábado à tarde a cena se repetia. Áurea, uma mulher de cerca de 50 anos, que se vestia elegantemente, abria o leque para se abanar um pouco e assim retomar o fôlego para voltar a dançar. Vinha ao baile sempre acompanhada por Adalberto, um amigo digamos assim especial, que mais parecia seu marido. Apenas parecia. Ele, todo respeitoso, acudia Áurea quando ela queria beber ou comer algo ou mesmo para apertar o nó da manga da camisa vermelha dela. Uma camisa de seda, bonita, que lhe caía muito bem por sinal e que por vezes costumava usar.

Há quase 20 anos era assim. Aos sábados ele deixava a família — era casado e tinha dois filhos já adolescentes — para se encontrar com Áurea e acompanhá-la ao baile. Bom papo, gostava de conversar com os frequentadores do baile. Era extremamente gentil. Cumprimentava todos que encontrava e oferecia cerveja aos conhecidos. “Um dia ainda iremos beber na minha terra”, dizia a um de seus amigos. Pois todo final de ano ia para a Bahia, visitar sua mãe e os irmãos, levando sempre sua família.

Áurea nunca ousou ligar no celular de Adalberto. Muito menos no número de telefone da residência dele. Mesmo quando ele ficou ruim e ficou internado em um hospital para uma cirurgia. Não podia nem queria confusão. “Já fui casada, e com um general do exército, que era enérgico, tão enérgico que eu nunca podia sair sozinha, desacompanhada, mesmo que fosse para ir à padaria. Agora chega. Ninguém mais manda na minha vida”, dizia.

E todo sábado, depois do baile, em que Adalberto sempre fazia questão de pagar a conta, os dois iam embora. Ele a acompanhava até em casa e depois disso ia para a casa dele, já que jamais dormira no quarto de Áurea. Que tinha dois filhos adultos, com os quais vivia junto — os “meninos” conheciam Adalberto e não se metiam a comentar a relação. E assim, semana após semana, mês após mês, ano após ano, mantinham esse encontro marcado. Para aos domingos ele preparar o almoço de sua família e ela ir religiosamente à missa orar e pedir proteção a Deus.